Um dos primeiros problemas enfrentados pela Construção Coletiva no colegiado aberto foi como gerir o financeiro, mantendo-se fiel aos princípios da horizontalidade, da organicidade e da descentralização. Inevitavelmente, o financeiro é um espaço burocrático, e portanto anti-libertário em sua essência. Guias previdenciárias, assinatura de documentos, pagamento de funcionários, tudo isso feito em meio a uma divida de números estrondosos e uma receita incerta. Não só o financeiro se mostrava como o espaço necessariamente mais burocrático da futura gestão, como também seria o mais cercado de complicações.
Além dos problemas relacionados à natureza de suas atividades, por uma questão de respeito aos funcionários e aos nossos locatários, o financeiro exigia uma estabilidade em torno daqueles que o compunham. Que funcionário se sentiria a vontade com uma gestão sem saber com quem pagaria seu salário no final do mês? Que locatário se sentiria a vontade a pagar seu aluguel cada mês com uma pessoa diferente e desconhecida? Foi a partir destas reflexões que desenvolvemos um método, baseado nos princípios do Colegiado Aberto, que se manteria fiel a nossa proposta enquanto, ao mesmo tempo, garantisse o mínimo de estabilidade no financeiro.
Foi assim criada a única comissão permanente em nossa gestão: a Comissão Financeira. A comissão, porém, seria rotativa, composta por três pessoas, e se renovaria a cada três meses, garantindo assim a descentralização de tarefas de seus integrantes. Porém, a rotatividade se daria de forma especial: em vez de todos seus integrantes mudarem a cada três meses, foi decidido que a cada turno se mudaria dois integrantes, sendo o terceiro mantido para que as experiências acumuladas pela comissão fossem repassadas aos novos integrantes que viessem a integrá-la. Aquele que a comissão houvesse decidido que se manteria no financeiro, necessariamente após integrar duas comissões seguidas, deixaria a mesma sem poder retornar à tarefa ao longo do ano. Dessa forma, se garantiria que os acúmulos da comissão fossem constantemente repassados aos novos integrantes, sem, ao mesmo tempo, impedir sua constante renovação.
Além de sua organização rotativa, foi decidido que a comissão seria aberta a todos que quisessem participar – o que aconteceu raramente, dado o caráter um tanto quanto monótono de suas atividades. Contudo, por mais chatas que tenham sido, é incontestável o caráter vitorioso das comissões financeiras da gestão de 2010: além de ter pago parcela significativa da “herança maldita” das gestões passadas, a mesma conseguiu, após 3 anos, equilibrar de forma animadora as contas do nosso CA!
Em time que está ganhando não se mexe! Com certeza, as comissões financeiras de uma futura Gestão Construção Coletiva 2011 serão geridas com o mesmo afinco e grau de responsabilidade que foram em 2010!